domingo, 5 de julho de 2009

A tal da meia

Uma das práticas mais hipócritas que há no Brasil é a meia-entrada. Simplesmente porque não existe a meia-entrada, o que existe é o ingresso inteiro e o dobro. Eu, como não tenho carteira falsa, pago o dobro quando vou ao cinema e talvez por isso vá cada vez menos.

Corrijam-me se eu estiver errado, mas por aqui se vende de 80 a 90 milhões de ingressos ao ano, comprados por 10 milhões de brasileiros das classes A e B. Esses números não mudaram quase nada nos últimos tempos, ou seja, o brasileiro não vai ao cinema tanto quanto deveria para acompanhar o crescimento da economia. Dizem alguns especialistas que a maior parte da culpa é do custo do evento social "pegar um cineminha" que, numa estimativa modesta, engloba estacionamento ou táxi, ingressos, pipoca e lanche no Mac'Qualquer'Coisa pós-sessão.

Uma observação: cito somente o cinema porque é a área que mais me afeta, mas também podemos estender ao teatro, shows, museus, etc.

Eu defendo com unhas e dentes o acesso do estudante a todos os bens culturais do país, e a velha e boa "meia" foi uma solução correta num determinado momento. Hoje, passados todos esses anos e cheias de vícios, ela pode ser sim um dos motivos do alto custo do ingresso. O governo deveria convocar a UNE, a UBES e os representantes dos exibidores, distribuidores e produtores para discutir e resolver logo essa parada. E eu faço uma proposta: Circuito Universitário Brasileiro.

Cada campus universitário do pais, público ou privado, teria um auditório totalmente adaptado para se tornar uma sala de cinema com um bom projetor, bom sistema de som dolby e pipoca na porta, onde os preços já seriam 50% do valor de mercado.

Imaginem uma cidade onde o ingresso inteiro custe R$ 20,00. Com o fim da meia entrada, o preço deveria cair para R$ 15,00, e o Circuito Universitário cobraria R$ 7,50. Ou seja: todo mundo sai ganhando. (Parágrafo acrescentado após o comentário da Tamara).


De onde viria o dinheiro pra isso? De um percentual do preço do ingresso ou da remessa de lucro ao estrangeiro (sei lá quanto, 5%, 10%). Em troca, apenas depois que esse circuito estivesse devidamente instalado e funcionando (só promessa não vale), acabaria a meia-entrada para estudantes maiores de 14 ou 16 anos.

Tenho certeza que meia duzia (ops! um dúzia inteira, vai) de economistas, advogados e representantes da classe chegariam a números precisos para dimensionar esse projeto. Quem sabe um projeto como esse não dobra o número de ingressos vendidos no país em pouquíssimo tempo? Vale a pena tentar.

Renata Brito me mandou o link de uma matéria no UOL Notícias sobre o assunto.

11 comentários:

Tamara disse...

Não seria mais justo se todas as pessoas pagassem 15 ao invés de umas pagarem 20 e outras 10?

Marcelo Laffitte disse...

Tamara, a primeira vista pode até parecer mais justo, mas a formação artística e cultural da sociedade precisa ter um caráter de excepcionalidade. A "meia-entrada" não é uma mera vantagem para o estudante, e sim uma ferramenta nessa formação.

Tamara disse...

Marcelo, eu concordo com todas as tuas colocações, mas confesso que acho frustante eu ter que pagar sempre o valor inteiro quando existe vários tipos de descontos nem sempre para classes/pessoas desfavorecidas.

Aqui em Porto Alegre há desconto para professores, aposentados, estudantes, correntistas de determinados bancos e para trabalhadores (com apresentação de contra-cheque). Eu não me enquadro em nenhuma dessas categorias e jamais terei carteirinha falsa. Por isso acho que chegando a um preço médio favoreceremos todos e também incentivaremos o acesso à cultura.

Marcelo Laffitte disse...

Tamara, você tem toda razão. É justo que todos paguem 15,00 nos cinemas super confortáveis de shopping centers que cobram 20,00/10,00. E é justamente isso que estou propondo.

Mas desde que se tenha a opção de pagar 7,50 nas salas do Circuito Universitário.

Mariana disse...

Acabei de vir de Pelotas (RS) e que surpresa a minha quando fui informada que na cidade onde a foi feito o primeiro filme longa-metragem brasileiro dirigido por Francisco Santos (Fábrica de fitas Guarany)não tem mais cinema. Ainda sim, pude ter a oportunidade de exibir dois filmes em faculdades e debater com estudantes do CEFET e da UFPEL ( que tem um curso de cinema a dois anos)e perceber o imenso interesse dos estudantes pelo cinema.

Anônimo disse...

Só para corrigir o meu comentário, Pelotas tem cinema sim, um cinema bem comercial ( tanto que não foi nem citado pelos alunos) . Seria o caso de ter um cinema universitário com um circuito mais alternativo.

Carlos Alberto Mattos disse...

Só quero lembrar que meia entrada estudantil não é só para universitários. Na sua proposta, Marcelo, como ficariam os ingressos dos alunos de 2º grau, por exemplo?

Marcelo Laffitte disse...

Carlinhos,
Estou sentindo que o texto está mais para "idéia" do que para "proposta" e, sem dúvida, gera muita dúvida.
Esse circuito não seria exclusivo para universitários. Apenas estaria usando as instalações das universidades para ampliar a base de consumidores, democratizar o acesso ao cinema e baratear o custo do ingresso, consequentemente aumentando o faturamento para toda a cadeia produtiva.
E é como eu escrevi: uma dúzia inteira de especialistas deveria definir todas as regras.

Marcelo Janot disse...

Concordo com a idéia do circuito universitário, Marcelo. E acho que uma medida prática inicial para acabar com as falsificações de carteirinha é concede-la de acordo com a idade, ou seja, estudante ou não, só vale até 21 anos. Assim o pobre que teve de parar de estudar cedo pra trabalhar também pode ir ao cinema.

abraços

Marcelo Laffitte disse...

Salve, Janot.

Pode ser uma excelente opção: menores de 21 e maiores de 65 anos pagariam meia-entrada. Bastaria mostrar a carteira de identidade, passaporte brasileiro ou carteira de trabalho. Esses documentos são um pouco mais difíceis de falsificar, não é, mesmo?

Com essa medida, tenho certeza absoluta que a única receita considerável que o exibidor perderia seria a da “máfia da carteirinha”. Mas ele não quer ser cúmplice de estelionato, ou quer?

Qual o próximo passo então? Propagar a idéia do Circuito Universitário Brasileiro. Quem sabe esse debate não se torna público?

Obrigado pela visita e volte sempre.

Maria Mar disse...

Eu concordo com a sua proposta Marcelo, mas com tantos desvios de verba, desvios de caráter... não acha que em pouco tempo desviariam o assunto, e o Circuito ia ser, além de meia-entrada, do tipo "meia-boca"? Eu adorei a sua solução, mas seria um problema para muitas pessoas... quer dizer, para poucas influentes!